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Ouve-se e lê-se com alguma frequência, no que respeita à análise dos escritos bíblicos, que aquilo que o autor disse, muitas vezes através da fala dos personagens envolvidos, deverá ser interpretado desta ou daquela forma. Parece-me esta análise errada, pois considero que um autor, seja contemporâneo ou seja da antiguidade, ao escrever, escreve exatamente o que quer dizer. Ao fazer-se uma interpretação pessoal, ou conveniente, no caso das religiões, mais não se faz do que desvirtuar o duro trabalho do autor em questão.
A meu ver, e no que diz respeito a textos antigos, uma coisa é muito importante considerar: enquadrar o que é escrito no contexto social, político e económico da época, pois dessa forma poderemos perceber com mais clareza o que o autor nos diz e não somos tentados, pelos pergaminhos da ética e da moral que nos domina, a desvirtuar o que ele disse efetivamente.
Hoje sabemos que Viriato era um guerreiro celtibero duma tribo Lusitana (não se sabe exatamente qual) e que essas tribos se dedicavam à pastorícia e a assaltar localidades; fosse para alargar o seu território, fosse apenas para roubar, eram bons no que faziam e eram conhecidos dos povos das redondezas. Muitos lusitanistas coram perante estes factos, alguns até os negam, pois pensam ser deplorável esta visão do herói, que reclamam seu. Eles esquecem-se que, naquele tempo (150-100 A.E.C.), saquear, guerrear, assustar o povo para ocuparem terras férteis ou jazigos de mineral, estava longe de serem atos reprováveis, eram, aliás, atos de bravura e audácia. Quanto muito, os invasores poderiam deparar-se com a legítima resistência dos nativos; podemos especular, sem grande margem de erro, que isso aconteceu a muitos bandos lusitanos nas suas incursões e sabemos, com toda a certeza, que aconteceu a Roma, o que veio a popularizar Viriato e todos os lusitanos.
Nos textos bíblicos, particularmente nas Bíblias anotadas, há notas que me deixam a pensar se o seu autor alguma vez imaginou o Livro Sagrado como um trabalho de escrita, seja ela um relato das diversas tradições orais da região ou um simples conto. Numa Bíblia editada em 1951, com anotações do Padre Matos Soares, logo no Cap. I de Génesis, deparo-me com a seguinte nota ao verso 2 ‘A terra, porém, estava informe e vazia, e as trevas cobriam a face do abismo, e o espírito de Deus movia-se sobre as águas.’:
2. O Espírito de Deus, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. É esta a melhor interpretação atendendo aos lugares paralelos da Escritura (Gén. XLI, 38; Ex. XXXI, 3; etc.), e à tradição.
Mas, pergunto-me, onde faz sentido na história da criação do mundo, o Espírito Santo? Chego mesmo a especular, de mim para mim, se os antigos povos hebreus não seriam cristãos…
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Ronilda David/loubahsofia said:
Lia minha Querida,meu bom dia.
Realmente os desentendimentos que existem actualmente a respeito
da Biblía Sagrada,é justamente no facto do tempo em que ela foi escrita.
Para piorar,vem também a questão das inúmeras traduções e adaptações
a qual ela sofreu ao longo do tempo, o que retirou e muito a pureza de sua originalidade.
Mas no meu conceito,o que é valido:
É o que sinto,o que percebo,o que faz-me bem ao le-la,
interpreta-la intimamente.
Infelizmente a Biblia Sagrada é refém da religião,da politica, das vaidades humanas em busca de status e poder.
Mas creio na Palavra Santa indeferentemente se foi escrita por pessoas tão humanas, quanto eu o sou.
Na verdade é ai que reside o encanto, sabes?
Só sinto indignação quando vejo o uso da sua sabedoria, para que aconteça lavagens cerebrais, actos de terrorismo, prisões emocionais.
Pois como está escrito:
“A verdade vos libertará”.
Só saberemos que verdade é essa se buscamos ter uma real intimidade com Deus, despidos de vaidades intelectuais, de parametros religiosos,locais.culturais,etc.
Pois a verdade é relativa, cada um o seu quinhão,
não é mesmo?
Levantastes uma questão que daria um optimo fórum:
“Mas, pergunto-me, onde faz sentido na história da criação do mundo, o Espírito Santo? Chego mesmo a especular, de mim para mim, se os antigos povos hebreus não seriam cristãos…”
Minha resposta seria outro comentário e creio que já alonguei-me por demais (risos)
Admiro por demais teu espaço,tua escrita a qual prende-me deliciosamente a atenção e dela retenho bons proveitos.
Meu carinhoso abraço,tenha uma linda terça feira
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Lia Liami said:
Ronilda, bom dia e muito obrigada pela tua opinião. 🙂
A questão que eu levanto prende-se apenas com a relação histórica do espírito santo e não com uma análise teológica. Ora se Genesis foi compilado por volta de 600 A.E.C. e o espírito santo é um dogma cristão, ou seja foi incluido na dogmática da igreja de Roma algures depois do séc. III da E.C. como pode o tradutor e anotador da bíblia arrogar-se da desvirtuar o que os autores antigos (que não tinham qualquer noção dessa trindade) escreveram? Só se for para conduzir os leitores a uma interpretação tendenciosa.
Agradeço do coração a atenção e apreciação.
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thiago oliveira said:
matéria tosca.
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